quarta-feira, 17 de junho de 2015

Era um dia normal

Era um dia normal. Pela luz do sol, recebi uma sequência de estímulos - triângulos, céu, sons de cascalho, vento, a sensação de pano no meu corpo. Eu acordei em pé, estava de olhos abertos e não conseguia entender nada. Eu não sabia que aqueles triângulos eram árvores, o som vinha dos pneus de um carro, o tal pano era a minha camiseta, e os meus braços eram aquelas coisas conectadas a outras coisas, chamadas mãos. Havia cores e formas e som e tato, mas minha mente não conseguia compreender nada daquilo. “Quando é que eu fiquei louca e não percebi? Eu era um ser tão sensato, lembro bem” pensei.
Durante muito tempo, as coisas faziam sentido. Eu tinha certezas absolutas em uma mentalidade infantilizada. Depois que admiti que não sabia de nada, uma parte do hemisfério esquerdo, que é responsável pela linguagem, lógica e raciocínio, sufocou e morreu. Quando descobri que dar uma certa liberdade aos meus sentimentos, o hemisfério direito, responsável por criatividade, intuição e emoções, deixou de se comunicar com o outro lado. Números viraram rabiscos, as cores perderam seus nomes, a comida perdeu o sabor, a música não tinha melodia. "Isso é lindo. Mas eu estou tonta, e minha cabeça dói", pensei de novo. A coisa desandou. Fiquei louca. Insuportável.
Era um dia normal, quem não era normal, era eu.