Era um dia normal. Pela luz do sol,
recebi uma sequência de estímulos - triângulos, céu, sons de
cascalho, vento, a sensação de pano no meu corpo. Eu acordei em pé,
estava de olhos abertos e não conseguia entender nada. Eu não
sabia que aqueles triângulos eram árvores, o som vinha dos pneus de
um carro, o tal pano era a minha camiseta, e os meus braços eram
aquelas coisas conectadas a outras coisas, chamadas mãos. Havia
cores e formas e som e tato, mas minha mente não conseguia
compreender nada daquilo. “Quando é que eu fiquei louca e não
percebi? Eu era um ser tão sensato, lembro bem” pensei.
Durante muito tempo, as coisas faziam
sentido. Eu tinha certezas absolutas em uma mentalidade
infantilizada. Depois que admiti que não sabia de nada, uma parte do
hemisfério esquerdo, que é responsável pela linguagem, lógica e
raciocínio, sufocou e morreu. Quando descobri que dar uma certa
liberdade aos meus sentimentos, o hemisfério direito, responsável
por criatividade, intuição e emoções, deixou de se comunicar com
o outro lado. Números viraram rabiscos, as cores perderam seus
nomes, a comida perdeu o sabor, a música não tinha melodia. "Isso
é lindo. Mas eu estou tonta, e minha cabeça dói", pensei de
novo. A coisa desandou. Fiquei louca. Insuportável.
Era um dia normal, quem não era
normal, era eu.