segunda-feira, 29 de janeiro de 2018

Só mais uma carta

É certo, eu já devo ter dito em algum lugar, em voz alta, que não escreveria mais sobre você. Mas como não me apego a promessas. E sou um ser sem palavra, aqui estou eu.
Esses dias acordei com o coração pulando mais rápido. A nítida impressão de que eu tinha acordado no passado. Quando olhei pro lado, você tava enrolando um na mesa perto da cama. A música era dos anos 70, apesar de toda essa aparência desapegada, o teu som ainda era o tradicional. Olhei e você estava cristalizado no tempo, preso, congelado em âmbar.
Como o inseto naquele anel naquele mercado na Liberdade.E você hoje me apareceu do nada.
Pra implicar com o meu sono pesado como fazia naqueles tempos loucos.
Claro que ia haver uma avalanche, baby, claro que ia dar vendaval.
Os planos, as viagens, as músicas que ouvimos lá pelas três da manhã.
Eu aprendendo obscenidades no graphic novel que voce me deu.
Hoje te enviei uma foto nossa, eu usava franja e você usava uma camiseta do Pink Floyd. Você disse: - Eu usei essa camiseta hoje, foi coincidência? Acho que não. -Nossa isso foi cruel.
Nós não merecíamos aquele fim patético no corredor do hotel, aquele arremedo de naturalidade, você fica feio sem saber o que fazer com as mãos nos bolsos, eu viro uma pessoa ruim em situações de fragilidade.
Hoje você me apareceu pra implicar com o meu sono pesado.
E me fazer lembrar de músculos exatos, de certos pêlos, daquele cheiro de vick vaporub no suor.
São assim os romances dessa vida.
Eu sempre terei coisas pra murmurar no teu ouvido.

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